12 maio 2008

As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não: "Com o suor dos outros ganharás o pão".
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen

09 maio 2008

2blue birds with pumps of l*ve




Selecções Femininas - parte XIII

Para ler e ... pensar!



* Se, depois de amares, odiaste, então é certo que não era Amor o que sentiste.
* A mulher que pretende fazer um mérito da sua beleza, anuncia que não possui outros.

Madame de Lespinasse




* A longevidade só é desejável se prolonga a juventude, e não a velhice.

Dr. Alexis Carrel




* Se desperdiçares uma hora de manhã, andarás todo o dia a correr atrás dela...

Provérbio Chinês



* A grandeza de alma é como o reflexo de luz intensa: extasia-nos os olhos e os sentidos.
* Uma forte vocação substitui um lento noviciado.

Júlio Dinis




* A distância actua no amor, como o vento nas chamas: apaga as pequenas e aumenta as grandes.
* Querer esquecer uma pessoa, significa pensar nela.

La Bruyére

Selecções Femininas - parte XII

CULINÁRIA - Receitas que seleccionámos para si

"PESCADA AO «GRATIN» COM COGUMELOS

8 filetes de pescada temperada com um pouco de sal; 150g de cogumelos de conserva; 1 lata, das pequenas, de concentrado de tomate; 30g de queijo ralado; 3 colheres, das de sopa, de azeite; 1 copo de vinho branco; açúcar, sal, pimenta e tomilho picado.
Ponha o azeite num prtao que possa ir ao forno, disponha os filetes no prato o melhor possível, cubra-os com os cogumelos cortados em lâminas finas, polvilhe com o tomilho. Dissolva o concentrado de tomate com o vinho branco, junte um pouco de açucar, sal, pimenta e o queijo ralado. Cubra os filetes com este molho e meta o prato no forno bem quente para gratinar.



PUDIM DE COUVE E FIAMBRE

250g de arroz; 250g de fiambre; 80g de margarina; 6 ovos; 50g de queijo ralado; 1 couve lombarda pequena.

Coza o arros em água temperada de sal de maneira que fique bem solto. Coza, igualmente, a couve lombarda cortada em tiras finas e escorra bem. Bata a margarina com as seis gemas, juntando-as uma a uma, o arroz cozido e o fiambre passado pela máquina de picar, acouve cozida e o queijo ralado. Tempere de sal e pimenta e junte 4 claras batidas em castelo. Deite tudo numa forma de pudim, bem untada e polvilhada com pão ralado e coza no forno em banho-maria."

08 maio 2008

Selecções Femininas - parte XI

Dois brasileiros em Lisboa
a rua, a noite e o fado

"NOITE gélida e silenciosa, chorando sobre a cidade. A chuva cai: lágrimas imperceptíveis, encharcando a rua.
Os prédios fechados e incolores, dobrados pelos anos, parecem quedar-se em oração. A prece é de tristeza, à luz bruxuleante do gás.
Lá longe, nas ruínas do Carmo, o sino do relógio quabra o silêncio. Doze badaladas firmes, compassadas. E o novo dia acorda, sonolento, iludido pela noite.
A rua negra lamenta-se.
Duas vozes, joviais e alegres, pararam a quietude da oite.
Risos francos:
- Venha morena! Quem disse que chove? Não vê que é o céu ciumento da nossa felicidade?
E alheia-se:
- Diga: quantas colinas já subimos? Lisboa é assim mesmo, moldada sobre montes?
De novo, os sorrisos, agora mais fortes, acordam a solidão da rua de noite.
No ar, repentinamente, uma doce balada de amor. Não chove, o frio desapareceu e há luar no céu da imaginação dos estranhos da noite.
- Seu guarda, o fado mora longe?
O guardião da noite apruma-se. Olha os estrangeiros.
A sua voz:
- Senhores, o fado está em toda a parte, por toda a cidade. Mora em cada porta que vedes! O fado é drama de todos: as suas histórias, os seus lamentos. Nós, os portugueses, atenuamos as nossas penas escutando-o.
- Verdade que o vosso povo é mesmo triste?
- Não! O humorista é também o maior sentimental. O poeta vive duas existências. Ora chora, ora ri. No meio da alegria, descobre um drama. Gostamos de meditar. O mar e o vento foram os nossos maiores inspiradores. Conhecemos a sua linguagem. Filhos de navegadores, vimos o mundo antes de outros povos. Separámos o real do irreal. Agora somos saudosos dos oceanos inabitados. A poesia começa onde a aventura acaba. Alma nostálgica, ausente da matéria, produz música de palavras.
As figuras esfumam-se na noite, rua acima.
A voz alonga-se na sala quase deserta de freguesia.
Gemem tristes as guitarras. O poema foi escrito por um homem do povo. Quase ninguém o conhece. Apenas o seu nome está registado, entre tantos outros. A história é um dos retalhos da sua vida, da nossa vida.
Os estrangeiros escutam a voz. Falam a mesma língua; são nossos filhos dilectos, a quem a distância fez esquecer os seus sentimentos de europeu ocidental. A alegria do novo continente e a mistura de raças fez nascer neles uma nova expressão musical. O Samba nasceu. O fado é genuíno; não gosta de viver fora da sua terra.
- Estranho modo de cantar! Porquê tanta tristeza?
Ele olha-a, consentindo. O bizarrismo da canção nacional surpreende-os. Escutam atentos. Depois, talvez as reminiscências do passado acordam neles. O fadista canta pela segunda vez.
- Você percebe mesmo o Fado? Gosta dele?
- Fado, minha querida, é um ritual do povo português! Ele fala dos seus problemas... do seu drama! Como quer você compreender ou amar aquilo que não está dentro de si?..."
De Milai Ferreira

Selecções Femininas - parte X


A MULHER no mundo de hoje


"Em poucos anos operou-se uma alteração profunda nos padrões e maneiras de viver da sociedade.
Tudo muda. O progresso trouxe consigo a solução de muitos problemas, mas também criou alguns.
Na sociedade, particularmente na família, de outros tempos as coisas estavam bem ordenadas: o pai exercia a sua profissão e o seu papel no lar era o de verdadeiro chefe de família. Era senhor de uma autoridade que ninguém lhe podia contestar. A mãe, na maior parte das vezes, era uma criatura que vivia à sombra da autoridade do marido e cujos horizontes e interesses não ultrapassavam as paredes do lar.
Cuidava dos filhos e do governo da casa. Para a educação das crianças tornava-se o eco dos pensamentos do pai, incutindo aos filhos o respeito pelas convenções familiares e uma rígida noção do bem e do mal.
À medida que as mulheres se foram apercebendo de que também podiam pensar e ter opiniões próprias, que passaram a cultivar-se, estudando nas escolas lado a lado com os homens, esta feição de vida mudou consideravelmente.
A mulher adquiriu confiança em si própria e passou a competir com os homens em todos os campos e profissões. É certo que se viu obrigada a menosprezar preconceitos, tradições, a vencer barreiras e, ainda hoje, não se pode dizer que todos os homens vejam com bons olhos esta intromissão em assuntos que até aí lhes pertenciam exclusivamente. Mas não podemos esquecer que, com as dificuldades da vida actual, a ajuda da mulher torna-se praticamente imprescindível na maioria dos lares. Quando há filhos, seria de desejar que a mãe - agora robustecida com uma cultura e experiência que suas avós jamais sonharam possuir - pudesse dedicar-se, em absoluto, à sua educação. Tal não pode suceder, infelizmente, pois o grande e natural desejo dos pais é prepararem os filhos o melhor possível para a vida, dando-lhes um curso. Para isso, sendo os proventos do pai insuficientes, mais do que nunca a ajuda da mãe é necessária.
A mãe de família que é obrigada, pela força das circunstâncias, a trabalhar fora do lar deve ser digna do nosso maior respeito e consideração. Profissionalmente, trabalha como um homem e quando desejaria descansar um pouco, ao fim do dia, os seus deveres de dona de casa não lho permitem. Nesta contigência, o homem deve procurar sacudir um pouco do seu já tradicional egoísmo e ajudar a esposa. Contrariamente ao que muitos pensam, isso em nada o diminui e, até aos olhos dos filhos, ele será um exemplo que estes procurarão seguir, aprendendo também a melhor avaliar e respeitar o trabalho da mulher que é sua mãe. Até para a educação das crianças o exemplo será benéfico: desejando também colaborar, manterão sempre as suas coisas arrumadas e aprenderão, desde pequenas, a cuidar de si próprias. Criam, deste modo, a mentalidade de que, quando necessitarem de algo, terão de obtê-lo pelos seus próprios meios, sem estarem à espera de que outrem o faça; não esqueçamos que a época em que vivemos é de auto-suficiência.
Mas... é necessário que a mulher não se masculinize, que não fale e proceda como um homem. A diferença entre os dois sexos é profunda tanto fisiológica como psicologicamente. Isto não quer dizer que o homem seja superior à mulher ou vice-versa. São diferentes; é tudo. Cada um tem a sua função a desempenhar na vida. Não podemos dizer qual delas é mais importante. Completam-se apenas; uma parte não pode nem deve prescindir da outra.
Os homens agem de acordo com o cérebro, as mulheres de acordo com o coração. Que as mulheresnão se deixem arrastar pelo coração, mas que também não o percam de todo!..."
Por Helena Maria

Selecções Femininas - parte IX

Existe o "elixir" da felicidade?
Por Charlotte Rix


"Ao arrancar a última folha do nosso velho calendário, ao começar uma agenda novinha em folha, interrogamo-nos: o que nos reservará o novo ano?
Descontraídos ou inquietos, segundo o nosso temperamento, tentamos levantar um pouco a espessa cortina que nos separa do futuro. Chagamos, até, a ler os prognósticos de célebres videntes, sem neles acreditar verdadeiramente, ou a procurar estabelecer as nossas probabilidades, fazendo uma espécie de balanço. Mas, apesar destas tentativas aleatórias, sabemos muito bem que nada nos permite vislumbrar, realmente, os acontecimentos futuros. só nos resta esperar que eles se realizem.
Os votos de felicidade, trocados há pouco, irão torna-se letra morta? A isso também não podemos repsonder com segurança. Felizmente, fica-nos a esperança, que nos ajuda a enfrentar a incerteza.
Os optimistas não perdem tempo diante da sua agenda de folhas virgens. Para eles a vida será cor-de-rosa, aconteça o que acontecer. Para eles, a existência é uma festa contínua, e, se, como toda a gente, tiverem de passar por maus momentos, nunca se deixarão desencorajar. Nada, absolutamente nada, pode alterar o seu bom humor. Privilegiados pelo destino, nasceram para serem felizes e ganhar todas as batalhas. Esta famosa receita da felicidade, que tanta gente procura sem sucesso, conhecem-na eles, desde que nasceram.
Para cada um a sua felicidade. Interrogai cem pessoas e vereis que não há duas que sejam felizes da mesma maneira. O que satisfaz plenamente uns, decepciona os outros. No entanto, existem certos factores indispensáveis, sem os quais não se pode, senão excepcionalmente, chegar ao cume da felicidade. A saúde, por exemplo, desempenha um papel vital na conquista da felicidade. Contudo, os que a gozam não sabem, senão raramente, apreciá-la pelo seu justo valor. Eles querem outra coisa, muitas outras coisas.
O ponto de vista deles. Quando se interroga uma personalidade ou uma vedeta, nove em cada dez vezes, pergunta-se-lhe: «Que pensa da felicidade?» Ou «É feliz»? E nove vezes em cada dez, a pessoa interrogada desembaraça-se da pergunta com um trejeito, respondendo mais ou menos evasiavamente. Com efeito, é muito difícil ser concreto em semelhante matéria. Há tantas versões da felicidade que parece praticamente impossível fixar-se definitivamente, porque aquilo que é perfeitamente válido hoje, já não o será talvez amanhã, ou depois de amanhã.
«Count your blessing»; este provérbio inglês diz exactamente o que é preciso para ser sempre feliz, aconteça o que acontecer. «Contai as vossas bençãos», fazei uma espécie de balanço, pondo de um lado os favores da sorte, e do outro, as experiências dolorosas.
E se souberdes reconhecer os pontos positivos, vereis que ultrapassam largamente os vossos desgostos. A conta, em vez de vos parecer deficitária, será, pois, satisfatória. Somente o que não querereis é admiti-lo.
Encontrar uma receita para ser feliz, eis o que muita gente deseja mas não consegue. Seria mais fácil procurar o meio de não estar descontente com a sua própria existência.
Em vez de maldizer a sua sorte, porque tem de se levantar, quando ainda deseja dormir, faria melhor se se alegrasse por poder partir. Os que estão amarrados a uma cama, por causa de um acidente ou de uma enfermidade, ficariam encantados de o poderem fazer. Servimo-nos dos olhos para ver, das pernas para andar, são bens imensos que, tão raramente, se estimam pelo seu justo valor...
Fazer o mesmo com o amor. Quantos casais, que se amam profundamente, nem sequer vêem até que ponto são privilegiados. Desprezam a sua felicidade, abandonam-na, tratam-na levianamente porque a consideram assegurada. E, no entanto, eles deveriam, todos os dias, repetir a si próprios que são felizes, pois só assim conseguirão aproveitar um dos raros bens do destino. há inúmeras pessoas privadas desse bem, e que dariam tudo o que possuem para o alcançar.
Ter a alma em paz é, ainda, uma «benção» desconhecida de muitos. Por que não admiti-la entre os principais «ingredientes» previstos para a receita da felicidade? Os que souberam atingi-la são sempre serenos, não conhecem nem os exageros do desejo, nem o fogo do ciúme, contendando-se com o que é justo e renunciando, sem desgosto, ao restante.
Saber limitar as ambições em função das suas possibilidades é, sem dúvida, um dom, mas que pode ser cultivado. Quanta amargura e rancor poderiam poupar-se admitindo isto. Em vez de querer trinufar num domínio em que apenas se pode ser medíocre, faríamos melhor em fixarmo-nos num objectivo acessível, e, depois fazermos tudo para o atingir. Uma tarefa cumprida, por mais humilde que seja, dá sempre uma profunda satisfação.
A felicidade é, geralmente, de curta duração; para usufruí-la plenamente, não se deve perder um minuto. Quantas vezes a deixamos passar sem a reconhecer, só nos dando conta disso mais tarde. Vós, que procuraia uma receita infalível para sre feliz, vêde bem primeiro se não o sois já sem o saberdes. Nove vezes em dez, descobrireis, então uma ou mais razões para estardes satisfeitos; vós, que julgastes ser infelizes, esquecidos pela felicidade.
Sêde optimistas, não exigindo demais do destino, e olhai em torno de vós para compreender que, apesar de tudo, nascestes sob uma boa estrela."

07 maio 2008

Selecções Femininas -parte VIII



Pequena Crónica da Cidade - O desamparo das ruas



"O estado de limpeza de uma cidade é a melhor garantia de saúde dos seus habitantes. Aumenta o sentimento de dignidade dos moradores, inspira confiança a quem visita.
Há alguns anos atrás Lisboa tinha fama de cidade limpa e orgulhava-se disso. Existiam caixas próprias, colocadas ao alcance dos transeuntes, nas ruas e nos jardins, mais ou menos pintadas, com a palavra «lixo» bem visível e cuja utilidade a maior parte das pessoas tomava em conta.
As próprias autorideades colaboravam na manutenção da limpeza e encaminhavam os mais descuidados, fosse com simples advertências ou com a aplicação de multas. Era proibido papéis nocjão, assim como cuspir e improvisar retretes nos recantos. Os moradores das casas não podiam atirar porcarias das janelas e sacudiam os tapetes a horas certas.
Todos lucravam com tais disposições porque o asseio só pode manter-se com a compreensão e respeito dos utentes.
Nesse tempo as donas de casajuntavam o lixo em caixotes de madeira que, algumas mais cuidadosastinham o cuidado de trazer esfregados a escova e sabão. Havia o incoveniente de os desperdícios ficarem muito ao alcance dos gatos e cães vadios, que os espalhavam, na ânsia de encontrar bocados comestíveis.
Para evitar o mau efeito do lixo no chão, foi decretado que os moradores adquirissem, obrigatoriamente, recipientes de folha com tampa. A ideia parecia boa, mas levantaram-se protestos, que a aquisição importava numas dezenas de escudos, que talvez não conviessse a todos e houve muitos refractários.
Os empregados da limpeza tinham ordem para levar os recipientes fora de lei. Então, as donas de casa rebeldes, passaram a embrulhar os desperdícios em jornais que vinham colocar à porta, dentro das horas que permitiam a sua recolha. Outras, mais despachadas e habitando em ruas de pouco trânsito atiravam os embrulhos da janela.
Depois, o recipientes de folha enferrujaram e estragaram-se. Entretanto, tinham começado a aparecer baldes com tampo de modelo semelhante aos de folha. Sob o ponto de vista funcional não eram maus. Suportavam mais lavagens, não enferrujavam, enfim, havia que considerar, acima de tudo, o seu baixo custo.
Os serviços municipilizados passaram a fechar os olhos à invasão do novo recipiente. Talvez fosse uma solução para os famigerados embrulhos abertos na calçada. Poucas pessoas haveria que não pudessem dispor de dez escudos para comprar um dos mais pequenos baldes, tão necessários ao arranjo do lar. Porém, agora, o hábito das folhas de jornal criara raízes. Depois, matéria atrai matéria, quem vê um monte de lixo com meio metro de diâmetro também pode ver o dobro ou o triplo, porque não despejar as coisas ali mesmo, à porta, sem mais preocupação de embrulhar e disfarçar? Primeiro, pela calada da noite, a seguir a qualquer hora do dia, os montes foram crescendo.
Hoje a situação é confrangedora. O lixo atirado à toa, o agravamento da falta de braços, mantêm as ruas num estado lastimoso. Mesmo nos passeios largos os transeuntes têm de caminhar com cuidado, em ziguezague, por entre porcarias de toda a espécie.
Ainda quando não há coisas à vista é impossível remover a sujidade incrustada no empedrado dos passeios. No Verão as moscas pululam. Assaltam as habitações em grupos sucessivos, instalam-se, mau grado as contínuas bombagens de insecticida, pois se um grupo morre outro aparece. Moscardos enormes entram zumbindo, pela janela, estragam qualquer peça de carne ou peixe que tenha ficado ao seu alcançe. Tornaram-se tão abundantes e resistentes, estes insectos que, mesmo no Inverno não deixam de aparecer. Há invasões de mosquitos, uma calamidade. Em especial no último Verão o número de pessoas mordidas, na cidade, por insectos venenosos e desconhecidos foi enorme.
Não considerandoos malefícios reais o aspecto inestético era já suficiente para causar alarme.
Vêem-se coisas deveras chocantes ao abandono na calçada. Coisas de que outrora se costumava falar baixinho e, embora naturais e humanas, nada têm de agradável e seria melhor usar e destruir nos bastidores.
No meio de tudo isto os ratos prosperam e podemos vê-los com frequência, médios e luzidios, passar ao longo das paredes ou remexer os monturos. Se por qualquer motivo a ordem fosse alterada e um vírus de carácter epidémico se estabelecesse na cidade os ratos propagá-lo-iam com a rapidez de um rastilho.
O cuspo no chão, para não lhe chamar coisa pior, torna-se repugnante, agressivo para qualquer estômago sensível. Nem as escadariasdos edifícios, os acessos ao metropolitano, os corredores subterrâneos escapam à sanha do cuspo, que tanto horroriza outros povos e os faz dizer «homem que cospe na rua só pode ser italinao, espanhol ou português».
Ultimamente ouve-se falar de casos de tuberculose, num ritmo que parecia ter sido ulttrapassado. Existirão vários motivos para esse recrudescimento de micróbios, porém a falta de certos cuidados de higiene não será um deles?
Retretes improvisadas, são às centenas. Não falo dos biombos de madeira armados para os trabalhadores da construção civil, mas de todos os cantos e recantos, que os desníveis das frontarias e as colunas dos prédios, em especial na parte nova da cidade, exalam um terrível mau cheiro e revelam coisas cuja descrição pode chocar, mas não podemos deixar de ver mo mais curto passeio a pé. - Veja-se a Avenida Rio de Janeiro, as imediações do mercado de Alvalade, certos troços das avenidas de Roma e Estados Unidos, etc.
O desmazelo, a incúria e a falta de respeito parecem ter-se apoderado de grande número de pessoas, talvez porque os mais responsáveis passam velozmente, de automóvel e não podem ver o que vai pelas calçadas.
Se as coisas assim continuam e com a natural tendência para agravar, haverá tempo em que só de carro será possível andar pelas ruas e, quem pretenda manter os sapatos a salvo, da porta de casa até ao seu transporte caminhará sobre poldras, coomo nas travessias dos regatos de aldeia."

Por Maria José de Miranda

05 maio 2008

Selecções Femininas - parte VII


O AVESTRUZ, a mais gigante ave do mundo não serve só para enfeitar chapéus!...


"Têm um ar distinto e severo, uma tristeza escondida no olhar e não é nada fácil contactar com eles. O seu porte altivo parece querer fazer-nos lembrar que o avestruz sul-africano é a maior ave que existe no mundo e de genuína ascendência pré-histórica. É um animal rude que luta com ferocidade, usando as suas grandes patas de ave corredora, com as quais dá fortíssimos golpes. As patas do avestruz são divididas em dois dedos e providas de um perigoso esporão em forma de cimitarra.
No entanto, a sua agilidade a lutar e a correr é quase um disfarce para a incapacidade com que a Natureza o dotou: não poder voar, apesar de dotada de asas. Em tempos pré-históricos, podia lançar-se nos espaços, mas as suas asas, então bem desenvolvidas, degeneraram e hoje são curtas demais e as plumas têm um ar de abandono, como que cansadas de tentar o impossível. Apesar disso ficou-lhe o jeito de estender as asas e de movimentar com a graciosidade de uma ave pairando no espaço.
As lindíssimos penas do avestruz são apreciadas desde os tempos mais remotos. A Bíblia, certos documentos antigos e alguns hieróglifos egípicios provam-nos que este animal era já conhecido antes da era cristã. A sua carne seria mesmo apreciada, sendo interessante salientar que era uma das que os israelitas estavam proibidos de comer.
No século XVI, as damas inglesas descobriram a beleza que as penas de avestruz podiam dar a um chapéu e dois séculos mais tarde a elegante Maria Antonieta de França usava-as como adorno. Sedosas, de uma alvura imaculada ou de uma raríssima cor-de-areia, suaves e leves, estas penas fazem a delícia das mulheres requintadas, mas as donas de casa sul-africanas não parecem dar-lhes tão grande importância pois usam-nas para limpar o pó. Os grandes costureiros consideram-nas um adorno magnífico. Adorno ou espanador, a pluma do avestruz tem sempre utilidade.
Este estranho animal constitui a riqueza de muitos lavradores, principalmente no Pequeno Karoo, na República da África do Sul. A criação de avestruzes é feita em larga escala nesta região, onde existem 65 000 avestruzes domesticados. A criação em domesticidade iniciou-se ali em 1863, constituindo um novo ramo de actividade ligado à agricultura. Em 1913 as penas era um dos artigos de exportação mais importantes, imediatamente depois do ouro, diamantes e lã. Houve, a seguir, uma quebra ruinosa neste mercado, a tal ponto que um quilo de plumas, que antes valia cerca de dezasseis mil escudos, passou a custar o preço de um espanador. Muitos agricultores, anteriormente enriquecidos com tão rendoso comércio, perderam as suas fortunas e os seus «palácios de avestruzes» caíram em ruínas.
Hoje a produção de penaas tal como a sua industrialização é feita em moldes totalmente novos. Por isso, o perigo de uma repetição do que aconteceu há cinquenta anos foi afastado, posto que essa produção deixou de depender unicamente de um mercado externo. A procura não se limita às plumas, a carne é, também, muito aprecida, especialmente a das pernas e os músculos compridos do dorso, que é preparada como «biltong». A pele é aplicada na fabricação de sapatos, carteiras, malas de senhora, etc.
Até os ovos e as patas tem aplicação como objectos decorativos, depois de devidamente trabalhados. Poderão imaginar as leitoras a originalidade de ter em casa um candeeiro feito de uma pata de avestruz com um lindo esporão luzidio? Os ovos também são utilizados na alimentação, comem-se mexidos com leite e equivale cada um a duas dúzias de ovos de galinha, pois chegam a pesar dois quilos.
A criação de avestruzes tornou-se novamente rendosa, requerendo um pequeno capital, pois as aves vivem em campos, apenas limitados com simples divisórias de rede. A sua alimentação tem por base certas plantas selvagens. Ao contrário do que se diz, o avestruz não come tudo o que se lhe depara. É certo que engole pedras, particularmente determinadas pedras brilhantes, com o tamanho de berlindes, com o fim de lhe facilitar a digestão dos alimentos que come inteiros.
Vemos portanto que, hoje em dia, já não é só pelas plumas que a criação do avestruz é economicamente importante. As penas - principalmente as brancas, que constituem a primeira camada que os machos têm nas asas - são absorvidas pelo mercado de alta costura. Mas são apenas 20% do total, o restante é utilizado na indústria dos espanadores.
Em Oudtshoorn, há um matador especial para avestruzes, equipado com material do mais moderno. As aves ali abatidas são utilizadas não só no «biltong» como na preparação de enchidos, sendo a gordura consumida pelas fábricas de sabões. Como já se referiu, a pele é também aproveitada, chegando a valer cada uma 800$00, antes de manufacturada.
Desta forma, mesmo que as penas deixassem de interessar ao mercado externo, a criação de avestruzes continuaria a justificar-se na África do Sul, dada a possibilidade de consumo, dentro do país, não só das penas como dos produtos e subprodutos atrás referidos.
No entanto, os costureiros que ditam a moda continuam a servir-se das penas do avestruz para adornar as mulheres elegantes. E se estas penas não serviram ao avestruz para voar, servem para fazer voar o dinheiro de quem as quiser adquirir, para com elas se alindar..."

pink soft


04 maio 2008

dia da mãe


O Dia das Mães tem a sua origem no princípio do século XX, quando uma jovem americana, Anna Jarvis, perdeu sua mãe e entrou em completa depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a ideia de perpetuar a memória da mãe de Annie com uma festa. Annie quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas.

Mammy, feliz dia!

02 maio 2008

Selecções Femininas - parte VI

As lentes de contacto, uma maravilhosa conquista da ciência e da técnica

"Cada vez vai sendo mais frequente o uso das lentes de contacto. É muito vulgar ver raparigas que as colocam rápida e facilmente, e fazem uma vida normal sem necessidade de esconder os olhos, por vezes bonitos, por detrás de uns óculos que nem a todas ficam bem.
Mas hoje o uso de lentes de contacto já não é só uma preocupação de estética. A maior parte das pessoas utilizam-nas por motivos profissionais. É compreensível que um artista de cinema não queira representar uma cena de amor, lançando um olhar apaixonado ao outro protagonista, através de uns óculos de grossos aros de tartaruga. Torna-se indispensável o uso de lentes de contacto nestas circustâncias.
Também os cirurgiões e enfermeiras verificam que as lentas dos óculos convencionais se embaciavam na atmosfera húmida das salas de operações, o que não acontece às lentes de contacto. Aos homens-rã e os desportistas, também também elas oferecem todas as vantagens, evitando o risco que, por exemplo, no caso dos desportistas, podia constituir o uso dos óculos. Até aos batoteiros se estende a utilidade das lentes de contacto, pois as cartas podem ser marcadas com uns sinais que são invisíveis a toda a gentemenos a quem use lentes de contactos vermelhas, dado que elas funcionam como um filtro. Assim conseguem vigarizar as suas vítimas, mas, evidentemente, os fiscais também as podem usar para os descobrir e diz-se que os do Casino de Las Vegas o fazem. É necessário atender a que para se usar lentes vermelhas, é necessário ter olhos castanhos, porque, se forem claros, tomam o tom vermelho, e batoteiros ou fiscais com olhos de coelho seriam facilmente identificados.
Há quem afirme ter sido o génio humanístico de Leonardo Da Vinci que, por volta de 1508, concebeu, em primeiro lugar, a ideia das lentes de contacto. Mas foi só no início do século XVIII que Descartes, o grande filósofo francês, desenvolvendoo pensamento de Da Vinci, precisou a ideia, coquanto somente um século mais tarde fossem feitas as primeiras lentes de contacto de vidro.
Até há relativamente pouco tempo, por volta de 1950, as lentes eram ainda de um feitio tal que cobriam toda a esclerótica, precisavam de um líquido como «amortecedor», e eram ainda feitas de vidro, embora já se estivesse a pensar no seu fabrico a partir de uma matéria chamada «Perspex».
Mais tarde o feitio da lente foi modificado, graças, em grande parte, à magnífica colaboração de três cientistas - o alemão, Dr. Sohnges, o sul-africano, Dr. Dickenson e o americano, Dr. Tuohy - que verificaram ser a córnea parabólica e não esférica como até então se pensava. Tornando parabólico também o perfil interno da lente de contacto, esta aderia à córnea, que é ligeiramente protuberante, por meio da atracção capilar e com o auxílio de uma película de lágrimas. O perfil externo da lente é que seria moldado de forma a ter a necessidade característica óptica.
Depois de todos estes aperfeiçoamentos uma dúvida ficava de pé: seria cansativo o uso destas lentes? Parece que não, já que a pressão exercida sobre a córnea é menor do que a que se sofre, normalmente, num dia de trabalho. Portanto, a lente pode ser usada, sem incómodo, durante muitas horas.
Surgiram, porém, dificuldades técnicas na fabricação de lentes de vidro com estas dimensões, pois tornavam-se demasiado frágeis e, logo, perigosas.
Em 1957, fizeram-se as primeiras experiências no fabrico de lentes a partir do «Perspex» transparente, desenvolvendo-se assim uma nova técnica num material adequado para a fabricação de lentes, pois o «Perspex» é duro, mas fácil de trabalhar, pode ser polido e tem grande variedade de cores transparentes.
Segundo a opinião de um abalizado técnico, o Sr. Colin Field, a variação nos índices de refracção resolveria os problemas da miopia e do astigmatismo.
As modernas lentes de contacto não necessitam de ser substituídas, a não ser em certos casos especiais, e, sendo necesário, são modificadas com mais facilidade do que os óculos.
A miopia infantil, provocada pelo aumento do globo ocular, é facilmente corrigida com as lentes de contacto por causa da pressão destas sobre a córnea. Em combinação com óculos, as lentes permitem um certo grau de visão a pessoas já parcialmente cegas.
A procura das lentes de contacto aumenta e assim estimula a qualidade da produção. E embora não seja provável que os óculos caiam em desuso, a verdade é que a avançada técnica no fabrico das lentes de contacto e as vantagens que elas oferecem, em determinados casos, justificam, perfeitamente, o favor de preferência que, hoje em dia, o público lhes dispensa."