Rifas, Sorteios e Palpites
"Já lá vai o tempo em que, por uma questão de gentileza, os clientes dos estabelecimentos eram obsequiados com brindes pelos proprietários. Sobretudo, as mercearias, aqui há trinta e cinco anos, mandavam a casa dos fregueses as broas do Natal, as amêndoas pela Páscoa e um bolo rei na passagem do ano. Algumas lojas levavam até ao cúmulo da gentileza o ofertarem, uma vez por outra, dois bilhetes para o teatro, atribuídos por rodízio entre a clientela, a qual beneficiava, assim, do bónus que era dado ao estabelecimento, por afixar, nas montras, os cartazes reclamativos dos espectáculos. Hoje quem pede as broas, não ao patrão mas aos clientes, são os empregados, desde o marçano ao meio caixeiro. Alguns até montam, nas lojas, as caixas mealheiros, bem enfeitadas com fitas, onde devem cair as moedas. E o hábito generalizou-se desde a loja de fanqueiro ao talho (que vende, de chapéu na mão, a carne fora da tabela).
Mas, como se isso já não fosse um índice de forma diferente como se processa a vida, agora, a propósito de tudo e de nada, se oferecem brindes por sorteio, com prémios irrisórios. Uma loja dá um garrafão de vinho a quem tiver coleccionado cinquenta tampas do limpa pratos «espuma de Neve», que lava, desinfecta, faz passar a dor de dentes (quando aplicado em bochechos) e ainda serve para perfumar a casa, limpando-a, com o resto, da sujidade. Um outro, porém, oferece uma chávena para o pequeno-almoço, mas só ao fim de lhes terem gasto géneros para 1000 jantares.
Enfim, nesta euforia de contemplar os fregueses, continua a clientela de parabéns, pois já existe quem ofereça, nas compras superiores a 1000$00, um balão para o menino; e a quem comprar uma televisão, um esquentar ou um gira-discos, dão-lhe de graça, um interruptor e uma tomada de corrente.
"Já lá vai o tempo em que, por uma questão de gentileza, os clientes dos estabelecimentos eram obsequiados com brindes pelos proprietários. Sobretudo, as mercearias, aqui há trinta e cinco anos, mandavam a casa dos fregueses as broas do Natal, as amêndoas pela Páscoa e um bolo rei na passagem do ano. Algumas lojas levavam até ao cúmulo da gentileza o ofertarem, uma vez por outra, dois bilhetes para o teatro, atribuídos por rodízio entre a clientela, a qual beneficiava, assim, do bónus que era dado ao estabelecimento, por afixar, nas montras, os cartazes reclamativos dos espectáculos. Hoje quem pede as broas, não ao patrão mas aos clientes, são os empregados, desde o marçano ao meio caixeiro. Alguns até montam, nas lojas, as caixas mealheiros, bem enfeitadas com fitas, onde devem cair as moedas. E o hábito generalizou-se desde a loja de fanqueiro ao talho (que vende, de chapéu na mão, a carne fora da tabela).
Mas, como se isso já não fosse um índice de forma diferente como se processa a vida, agora, a propósito de tudo e de nada, se oferecem brindes por sorteio, com prémios irrisórios. Uma loja dá um garrafão de vinho a quem tiver coleccionado cinquenta tampas do limpa pratos «espuma de Neve», que lava, desinfecta, faz passar a dor de dentes (quando aplicado em bochechos) e ainda serve para perfumar a casa, limpando-a, com o resto, da sujidade. Um outro, porém, oferece uma chávena para o pequeno-almoço, mas só ao fim de lhes terem gasto géneros para 1000 jantares.
Enfim, nesta euforia de contemplar os fregueses, continua a clientela de parabéns, pois já existe quem ofereça, nas compras superiores a 1000$00, um balão para o menino; e a quem comprar uma televisão, um esquentar ou um gira-discos, dão-lhe de graça, um interruptor e uma tomada de corrente.
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Não se julgue, porém, que é fácil ficar habilitado aos valiosos sorteios que muitos inventam, na ânsia de reclamar os produtos.
Uma grande firma americana fez, junto da clientela, a maior propaganda da cenoura ralada e da salsicha gigante. De entrada, começou por sortear, todas as semanas, um automóvel. Depois, no fim do mês oferecia um autocarro a agora, ao fim de uma no, entre os milhões de compradores dos seus produtos, está em vésperas de oferecer um avião familiar, no valor de algumas centenas de contos. O concurso é original. Assim, no dia fixado, o concorrente tem de dizer a cançonetista, em determinado minuto, cantará na estação tal. Dá-se a lista dos artistas chamados a intervir. Rita Pavone, a trepidante vedeta italiana, cantará o quê? Que trecho executará a orquestra de Paul Maunet? Adamo, Cliff Richard, John Holliday, CharlesAznavour, Julie Andrews, em que minuto cantarão?
Os concorrentes mandam o seu «totobola-palpite», neste campeonato de canções e depois aguardam o resultado.
Como há sempre muitos concorrentes, cinquenta mil acertam no cantor ou na orquestra, ou melhor, no disco transmitido. Esses concorrentes ganham logo um saquinho de caramelos. Depois têm de aguardar o sorteio feito entre os concorrentes – cheios de sorte! – que acertaram em cheio durante doze semanas.
Ao todo, um milhão de candidatos concorre ao prémio do avião, dando pela salsicha gigante e que consomem, também, a farinha de cenoura. Ao fim e ao cabo, é um belo concurso que faz criar o gosto pelas canções e pela música ligeira.
Resta dizer que a fábrica que promove o concurso é a principal accionista da firma gravadora de discos. E assim se consegue, numa penada, vender discos, salsichas e cenouras.
Há muito tempo, em Lisboa, uns grandes armazéns fizeram grande sucesso de vendas só porque metiam nas mãos das crianças balões coloridos, com letras garrafais de reclamo, balões esses que estoiravam sempre antes de terem chegado a casa. Os garotos chorosos, berravam que queriam outro e muitas mamãs, embora contrafeitas, voltavam à loja, e adquiriam uma coisa qualquer que não fazia falta para levarem novo balão.
Com o andar do tempo, os balões eram, afinal, o chamariz do negócio, tomaram tal incremento que as próprias mamãs se sujeitavam a grandes discussões para levarem elas próprias, presos nos dedos, os voadores balões que, ou rebentavam, ou iam pelos ares fora. Mas esse mimo do balão cedo desapareceu e passou, apenas, a ser concedido no Natal ou em dias festivos.
Mas a garotagem já não liga importância nenhuma aos coloridos balões. O que os garotos querem, isso sim, é uma metralhadora, um avião que lance bombas, um submarino que mergulhe no tanque da roupa.
Há ainda, claro, aqueles negociantes oportunistas, armados em empresários de negócios, que oferecem a quem comprar cem latas de cacau concentrado, depois de entregues as senhas respectivas um andar mobilado. Só ao fim de cinco anos se faz o sorteio, entre milhares e milhares de concorrentes… e o andar põe-se a andar para um cliente perdido nos confins da África que nunca chega a saber que lhe saiu qualquer coisa… "
de Manuel Martinho in Revista Selecções Femininas.
Os concorrentes mandam o seu «totobola-palpite», neste campeonato de canções e depois aguardam o resultado.
Como há sempre muitos concorrentes, cinquenta mil acertam no cantor ou na orquestra, ou melhor, no disco transmitido. Esses concorrentes ganham logo um saquinho de caramelos. Depois têm de aguardar o sorteio feito entre os concorrentes – cheios de sorte! – que acertaram em cheio durante doze semanas.
Ao todo, um milhão de candidatos concorre ao prémio do avião, dando pela salsicha gigante e que consomem, também, a farinha de cenoura. Ao fim e ao cabo, é um belo concurso que faz criar o gosto pelas canções e pela música ligeira.
Resta dizer que a fábrica que promove o concurso é a principal accionista da firma gravadora de discos. E assim se consegue, numa penada, vender discos, salsichas e cenouras.
Há muito tempo, em Lisboa, uns grandes armazéns fizeram grande sucesso de vendas só porque metiam nas mãos das crianças balões coloridos, com letras garrafais de reclamo, balões esses que estoiravam sempre antes de terem chegado a casa. Os garotos chorosos, berravam que queriam outro e muitas mamãs, embora contrafeitas, voltavam à loja, e adquiriam uma coisa qualquer que não fazia falta para levarem novo balão.
Com o andar do tempo, os balões eram, afinal, o chamariz do negócio, tomaram tal incremento que as próprias mamãs se sujeitavam a grandes discussões para levarem elas próprias, presos nos dedos, os voadores balões que, ou rebentavam, ou iam pelos ares fora. Mas esse mimo do balão cedo desapareceu e passou, apenas, a ser concedido no Natal ou em dias festivos.
Mas a garotagem já não liga importância nenhuma aos coloridos balões. O que os garotos querem, isso sim, é uma metralhadora, um avião que lance bombas, um submarino que mergulhe no tanque da roupa.
Há ainda, claro, aqueles negociantes oportunistas, armados em empresários de negócios, que oferecem a quem comprar cem latas de cacau concentrado, depois de entregues as senhas respectivas um andar mobilado. Só ao fim de cinco anos se faz o sorteio, entre milhares e milhares de concorrentes… e o andar põe-se a andar para um cliente perdido nos confins da África que nunca chega a saber que lhe saiu qualquer coisa… "
de Manuel Martinho in Revista Selecções Femininas.
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Segundo este texto de Manuel Martinho, a aplicação das leis de Marketing foram aplicadas em vários sentidos, sempre com o objectivo comum de aumentar as vendas, iludindo os clientes que efectuam compras de determinados artigos em determinados estabelicmentos, em seu favor.
O Marketing tem destas coisas, faz-nos comprar aquilo que não necessitamos e ainda acreditamos que nos será dadas mais-valias por essa compra.
Na breve pesquisa que efectuei acerca da disciplina de MKT, encontrei na Wikipédia, as suas várias definições que apresentam e representam muito bem, o que é o Marketing e como nos influência:
" O conceito contemporâneo de Marketing engloba a construção de um satisfatório relacionamento a longo prazo do tipo ganha-ganha no qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que desejam e necessitam. O marketing originou-se para atender as necessidades de mercado, mas não está limitado aos bens de consumo. É também amplamente usado para "vender" idéias e programas sociais. Técnicas de marketing são aplicadas em todos os sistemas políticos e em muitos aspectos da vida." Esta será a definição mais completa e actual, há, no entanto, muitas outras que apesar de nos dizerem quase o mesmo, apresentam certas características distintas, vertentes diferentes das várias possibilidades de "fazer" Marketing:
* Marketing engloba todo o conjunto de atividades de planejamento, concepção e concretização, que visam a satisfação das necessidades dos clientes, presentes e futuras, através de produtos/serviços existentes ou novos.
* Marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros.
* Marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros.
* Marketing é a entrega de satisfação para o cliente em forma de benefício.
Por norma, sou bastante céptica, mas devo confessar que muitas vezes caio nas redes do Marketing que me levam a consumir alguns produtos ditos "desnecessários". Não nos podemos esquecer que os meios de comunicação, estão sempre repletos de anúncios que tornam a nossa vida maravilhosa, e no final de contas, não é isso que nós desejamos? É. E caímos que nem patinhos! Os resultados? Muito poucos ou nenhuns, apenas dinheiro mal gasto e tempo perdido.
Contudo, aceito todo este espectáculo em volta das técnicas de MKT e aceito também os seus efeitos directos e indirectos na vida de cada um. Faz parte da nossa actual sociedade - sociedade de consumo.
Aceito e até respeito, mas como sou muito desconfiada... tento, quase, sempre fugir a sete pés!
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